
A cada livro lançado por Rubem Fonseca mais cresce minha admiração pelo autor. Seu mais recente trabalho, recupera o contista observador que através de sua lente enxerga aquilo que há de mais banal e profundo em nossa vida. Inspiração retirada do cotidiano, linguagem direta e objetiva, uma viagem sem ponto de chegada. Cotação: ****
Outras Leituras: Laís Azevedo
Axilas e Outras Histórias Indecorosas é o mais recente livro de contos de Rubem Fonseca, escritor considerado um dos maiores contistas brasileiros de todos os tempos. Nessa nova obra, o autor lança mão do estilo realista-brutalista que pautou sua produção na década de 1960 e 1970. Assim, a violência é trazida à tona nos contos que compõem a obra. Entretanto, ela não aparece sozinha, pois Fonseca, como um grande autor de romances de investigação, introjeta também elementos da narrativa policial em algumas histórias. E, é por isso que ele resgata uma das suas personagens que aparecem em Bufo & Spallanzani, o detetive Guedes, o qual ora aparece como uma personagem central, ora como uma persona secundária. O assassinato, o sexo, a intolerância, enfim, tudo que acaba levando as personagens a cometerem atos violentos perpassa os dezoito contos de Axilas e Outras Histórias Indecorosas.
O primeiro conto, intitulado “Sapatos”, relata a história de um homem que se vê impedido de conseguir um bom emprego porque usa sandálias velhas. Porém, quando consegue um sapato inglês de um patrão de sua mãe, a personagem finalmente começa a ver seu mundo se modificar. Em “Bebezinho lindo”, segunda narrativa do livro, uma mãe relata o desatino de ter um filho com Síndrome de Down. Já em “Axilas”, o autor, na linha machadiana de “Uns Braços”, apresenta uma personagem obcecada pelas axilas femininas que desperta este fetichismo após ver uma violinista. “Intolerância”, por seu turno, um indivíduo mostra sua decepção em ter que aguentar suas esposas que engordam, destruindo, dessa maneira, seus corpos. Em “Disfarces e a euforia”, a ideia desastrosa de tentar retardar o envelhecimento é trabalhada. “O misantropo”, décima oitava narrativa que fecha a obra, Fonseca traz a lume um homem que não suporta os seres humanos e, por isso, decide exterminá-los
As narrativas concisas, narradas primordialmente em primeira pessoa que mesclam humor e crueldade, mostram que Rubem Fonseca domina como poucos a arte do conto. As personagens, apresentadas pelo autor de O Cobrador, mostram as agruras que elas sentem pelos seus defeitos. Além disso, expõem como não conseguem lidar com as falhas dos outros. A insatisfação com o próprio corpo e com o corpo doutrem resulta sempre em atos cruéis ou numa desilusão com o mundo, sendo que esses dois elementos acabam, pois, imiscuindo-se.
Tenho certeza que alguns críticos torcerão o nariz para esta nova obra de Fonseca. Alegarão, como sempre, que ela não faz jus àquelas publicadas nos anos 1960 e 1970. Porém, não vá na onda deles. Pelo contrário, compre, leia e desfrute mais um livro do velho Rubão, pois ele mostra que ainda está em forma.
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