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Mostrando postagens de dezembro, 2010

Registros de Bossa Nova

A sensação que tive ao assistir o documentário de Paulo Thiago é a de estar assistindo uma grande palestra sobre a formação estética e lírica da Bossa Nova. Somos convidados a realizar um passeio cronólogico e espacial do movimento tendo como professores ilustres, dois nomes fundamentais do movimento: Carlos Lyra e Roberto Menescal. Os bastidores do movimento, a evolução da harmonia e a importância de Ronaldo Boscoli, Johnny Alf, de Newton Mendonça e principalmente e a de João Gilberto são evidentes ao longo dos depoimentos e recuperam nomes que estão distantes da mídia. O único vivo (João Gilberto) se recusou a participar do documentário, mas mesmo assim, os depoimentos de músicos revelam sua força e influência. Em vários momentos, clipes são apresentados com participações de João Donato, Leny Andrade, Wanda Sá e imagens de arquivo especiais como a de Sylvinha Telles e Tom Jobim. O documentário revela a imagem de um Brasil em processo de inserção na modernidade e sua primeira tentativ

Leitura: 32 Dentes

Texto escrito por Ana Paula Maia A mesma inquietação sufocante no ar pesado da noite permanecia suspensa sobre minha cabeça, agora estendida em uma cama, outrora esborrachada sobre a calçada. O sangue coagulado entranhou nos dentes. As narinas doíam e sangravam com o atrito do ar. O oxigênio deslizava ressecado pela garganta dolorida e feria meus pulmões. Estava sonhando que recitava Ilíada diante de um espelho e meus dentes caíam todas as vezes em que esquecia um trecho. O mais estranho é que nunca li a Ilíada. Fiquei banguela. "Canta-me a cólera — ó deusa — funesta de Aquiles Pelida..." Foram minhas primeiras palavras ao despertar nauseado. Fiquei lá deitado repetindo: Canta-me a cólera Canta-me a cólera Canta-me a cólera. Senti meus molares cariados, pontiagudos, cravados no osso. Enquanto deslizava a língua por toda a dimensão da boca, esbarrando em aftas e dois recentes vãos, abertos a socos e pontapés, lembrava-me que já era um homem. Sim, um homem que possuía uma arca

Leituras Programadas

1- Se eu fechar os olhos agora de Edney Silvestre. Record 2- Mar Morto de Jorge Amado. Companhia das Letras 3- A guerra dos bastados de Ana Paula Maia. Língua Geral 4- O habitante das falhas subterrâneas de Ana P. Maia. 7 letras 5- Em alguma parte alguma de Ferreira Gullar. José Olympio 6- A obscena senhora D de Hilda Hilst. Global

Música da Semana: Face a Face

Gravada em 1976 pela cantora Simone, a canção de Sueli Costa e Cacaso é maravilhosa. Extremamente sensual e com uma carga erótica fortíssima fez um grande sucesso em sua época projetando o nome da cantora baiana. Em seu último dvd "Em boa companhia", Simone revisita a canção inesquecível. É a música que inicia a minha jornada nesse domingo de natal. São as trapaças da sorte, são as graças da paixão Pra se combinar comigo tem que ter opinião São as desgraças da sorte, são as traças da paixão Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro Uma certeza me nasce, e abole todo o meu zelo Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo Estava cego o apelo, estava solto o impasse Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace No rolo feito um novelo, até o fim do degelo Até que a morte me abrace São as desgraças da sorte, são as traças da paixão Quem quiser casar comigo tem que ter bom coraç

Maravilhosas Narrativas de um grande artista brasileiro

Com muita surpresa e graça, a prosa de Chico Anysio segue todas as características do humor do comediante. Uma prosa ágil que se aproxima muito do coloquial e com um senso de observação peculiar do cotidiano, Chico apresenta narrativas diversas que abordam temáticas variadas: do trágico ao cômico sem deixar de lado seu humor inteligente. Os textos "Alambique"; "A mulher do dentista" e "A vaca na estrada" chegam a lembrar piadas que estão no imaginário da população. Por isso é tão fácil ser conduzido e se encantar com as narrativas "mágicas" de Chico Anysio. Ótima leitura para o feriado. ****

O lírismo de Ferreira Gullar

Um dos nomes mais importantes da cultura brasileira completa esse ano 80 anos de vida. Ferreira Gullar é atualmente o nome mais representativo da poesia produzida no Brasil. Inteligência e sensibilidade são marcas registradas de sua atuação no cenário artístico nacional. Tenho tido a oportunidade de assistir várias entrevistas do poeta e cada vez que passa admiro ainda mais sua lucidez e capacidade de olhar para a realidade de uma forma objetiva, prática e lírica. Em sua homenagem, anexo abaixo alguns textos para a leitura nesse domingo. Os Mortos os mortos vêem o mundo pelos olhos dos vivos eventualmente ouvem, com nossos ouvidos, certas sinfonias algum bater de portas, ventanias Ausentes de corpo e alma misturam o seu ao nosso riso se de fato quando vivos acharam a mesma graça MAU DESPERTAR Saio do sono como de uma batalha travada em lugar algum Não sei na madrugada se estou ferido se o corpo tenho riscado de hematomas Zonzo lavo na pia os olhos donde ainda escorre uns restos de trev

Amor, Festa, Decepção

A expectativa era grande por vários motivos. Primeiro, qualquer dvd de Maria Bethãnia é um grande acontecimento. Shows temáticos, roteiro preciso e forte marcação cênica. Geralmente os dvds da cantora conseguem captar pelo menos uma parte da magia e da sedução da cantora baiana. Mas seu novo dvd dirigido por André Horta (o mesmo diretor do dvd Maricotinha e Brasileirinho) decepciona e muito. A culpa não é da cantora. O show é muito bonito, mas a gravação deixou de lado aquilo que mais desperta atenção e beleza no canto dramático de Bethânia: sua interpretação e a teatralidade dos gestos apresentados. Tomadas amplas (as vezes nem vemos o rosto da cantora), cenas desencontradas (canta uma coisa aparece outra). Não valorizar a interpretação de canções como "Você Perdeu"; "Estrela"; "Balada de Gisberta" (alguns vídeos do youtube são melhores) através das imagens é um erro imperdoável da direção do dvd. Apesar desses problemas, os extras explicam pelo viés mu

PRECIOSIDADE

15 canções maravilhosas de Chico Buarque juntas com a virtuosidade do violão de Arthur Nestrovski resultam em um momento maravilhoso dentro da música popular brasileira. Na solidão do estúdio, Artur faz uma reeleitura particular da obra de Buarque. Nessa nova abordagem percebemos uma economia nos arranjos das canções, proporcionando mais beleza e nuances que as melodias são capazes de indicar. Depois de um trabalho belíssimo com as canções de Tom Jobim, Artur presenteia a todos que admiram a obra de Chico Buarque e a aqueles que adoram música instrumental. Nota 10. ***** A seguir nota de Mauro Ferreira: "Após revisitar o repertório de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) no CD Jobim Violão, Arthur Nestrovski se volta para o cancioneiro de Chico Buarque em Chico Violão, disco editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de abril de 2010. As 15 músicas foram formatadas em arranjos para violão solo. Com obras-primas como Tatuagem (1973), Beatriz (1983) e Futuros Amantes (1993), a sel

Singelas Histórias do Brasil

O filme do cineasta mineiro Helvécio Ratton é uma surpresa agradável. Partindo de narrativas folclóricas, o diretor proporciona uma viagem leve dentro de um Brasil desconhecido, principalmente para os moradores dos grandes centros urbanos. Com direção precisa e simples, Ratton mostra que é um ótimo contador de histórias, recuperando a magia que existe no interior do país. Ótimo programa para assistir com a família. A seguir um comentário sobre o filme.*** O filme é composto de quatro narrativas curtas, costuradas por uma narradora, vivida por Marieta Severo. O longa surgiu a partir de um curta -- que é o primeiro segmento de "Pequenas histórias" -- quando o diretor participou de um projeto de uma TV educativa. Esse curta tinha apenas 12 minutos, mas o diretor acreditava que o material renderia mais. Por isso, resolveu produzir outros segmentos e fazer um longa de episódios. "E a água levou" traz Patrícia Pillar no papel de uma sereia que começa a ajudar um pescador,

Música da Semana: The World We Knew

Over and over I keep going over the world we knew Once when you walked beside me That inconceivable, that unbelievable world we knew When we two were in love And every bright neon sign turned into stars And the sun and the moon seemed to be ours Each road that we took turned into gold But the dream was too much For you to hold Now over and over I keep going over the world we knew Days when you used to love me And every bright neon sign turned into stars And the sun and the moon seemed to be ours Each road that we took, it turned into gold But the dream was too much for you to hold Now over and over I keep going over the world we knew Days when you used to love me Over and over I keep going over The world we knew Tradução: Mais e mais eu continue o mundo sabíamos Assim, quando você andou ao meu lado Isso inconcebível, inacreditável mundo que sabíamos Quando nós dois estavam apaixonados E cada letreiro em néon brilhante virou estrela E o Sol e a Lua parecia ser nossa Cada estrada que tom

MY Way de Cauby e Sinatra

Cauby Peixoto aos 80 anos realiza seu grande sonho. Um show em que canta exclusivamente seu maior ídolo: Frank Sinatra. E temos a oportunidade sermos presenteados com a gravação do cd e dvd desse show. Em 55 minutos, Cauby (sem exageros e firulas) encanta os ouvintes apresentado uma ótima seleção de canções de Sinatra. O tempo fez com que Cauby passasse a valorizar cada vez mais sua voz e usá-la na busca por uma emissão precisa e clara. Por isso o dvd é imperdível, não só para quem é fã de Cauby e Sinatra, mas para aqueles que gostam de uma boa sonoridade musical. Um momento irrepreensivel é a gravação que Cauby apresenta de "The World we Knew". Uma das canções mais dificéis de Sinatra que coube na medida na voz de Cauby. Parabenizo a gravadora Lua Music e em especial a Thiago Marques Luiz pelo precioso trabalho oferecido a todos que gostam de uma boa música popular brasileira pelos discos recentes realizados sobre a alçada de Cauby (canta Roberto Carlos), que há muito tempo,

Fernanda Young

O livro de Fernanda Young apresenta um enredo interessante e que prende a atenção do leitor. Uma mulher descobre a traição do namorado e como vingança o amarra em uma cama e resolver "cortar o mal pela raiz". Mas antes disso, explica passo a passo os motivos de tal ação. A prosa de Young é conhecida pela objetividade e um humor que beira ao sarcasmo. Em vários momentos, a autora brinda o leitor com imagens interessantes. Mas no decorrer da leitura, a trama estaciona perdendo sua força inicial. O final chega a ser primário diante de todas as outras situações narrativas. ** Trecho: "Toda mulher quer se vingar dos homens. e você não ´exceção. Pois nem há necessidade de existir um motivo específico em seu passado; a vingança será justa pelo simples fato de eles serem homens e você mulher. São milhares de anos de razões acumuladas, séculos e séculos de repressão sob a ditadura do falo. Algumas mulheres surtam, não aguentando mais".

A Poesia de Jorge Amado

A minha lista de leitura para o final do ano começa com chave de ouro: Mar Morto de Jorge Amado. Há muitos anos realizei a leitura de alguns trechos dessa obra e lembro do encanto que tive ao ser conduzido por uma narrativa lírica e emocional que tem como pano de fundo o cotidiano dos pescadores baianos, envolvidos em suas paixões amorosas e religiosas. Em breve, realizarei mais alguns comentários sobre essa maravilhosa aventura humana.

Diversão Garantida

Depois de um dia tumultuado de trabalho, chego em casa e tenho a oportunidade de assistir um dos melhores programas de humor que já existiu na televisão brasileira. O cana Viva exibe diariamente os melhores momentos da famosa escola de Chico Anysio. Tipos inesquecíveis são relembrados garantido uma diversão sem qualquer tipo de preconceitos. Infelizmente, a falta que Chico Anysio e seus companheiros fazem para a televisão brasileira é irrepreensivel. Imperdível. ******