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Mostrando postagens de maio, 2010

BALADA DE GISBERTA

Canção lindíssima de Pedro Arbrunhosa Perdi-me do nome, Hoje podes chamar-me de tua, Dancei em palácios, Hoje danço na rua. Vesti-me de sonhos, Hoje visto as bermas da estrada, De que serve voltar Quando se volta p’ró nada. Eu não sei se um Anjo me chama, Eu não sei dos mil homens na cama E o céu não pode esperar. Eu não sei se a noite me leva, Eu não ouço o meu grito na treva, E o fim vem-me buscar. Sambei na avenida, No escuro fui porta-estandarte, Apagaram-se as luzes, É o futuro que parte. Escrevi o desejo, Corações que já esqueci, Com sedas matei E com ferros morri. Eu não sei se um Anjo me chama, Eu não sei dos mil homens na cama E o céu não pode esperar. Eu não sei se a noite me leva, Eu não ouço o meu grito na treva, E o fim vem-me buscar. Trouxe pouco, Levo menos, E a distância até ao fundo é tão pequena, No fundo, é tão pequena, A queda. E o amor é tão longe, O amor é tão longe… (…) E a dor é tão perto

Morte e Vida de Quincas

Baseado na obra de Jorge Amado, o novo filme de Sérgio Machado presta uma bela homenagem não apenas ao escritor baiano mas a todo o universo que a referida obra apresenta. Uma Salvador distante dos cartões postais, cheia de contradições, violenta, ignorante e atrasada. Sérgio realiza uma adaptação livre e incorpora no filme situações dramáticas ausentes na obra para a adaptação a linguagem cinematográfica. Com muito humor e belas interpretações o filme comove o público e deixa margens a várias interpretações. Contardo Colligaris diz que ao assistir o filme identifica que "Quincas tem razão: só teme a morte quem não se permitiu viver, ou seja, quem viveu plenamente não tem medo de morrer. Mas o que é uma vida plena? Será que é a vida de Quincas? A bebida e os amores? A fuga das responsabilidades domésticas? Talvez o valor da farra de Quincas esteja, sobretudo, na liberdade de viver sem se importar com o julgamento dos outros, com a boa reputação. Para aproveitar a vida, antes de ma

Vida e Morte de Quincas

A novela de Jorge Amado é um momento divertidíssimo da literatura nacional. A trajetória de Joaquim Soares da Cunha não deixa de ser a trajetória de muitos brasileiros que se dedicaram a uma vida honesta e dedicada a família e que em um momento de loucura, se isso é possível, abandona tudo para ser realmente feliz e aquilo que sempre quis ser. Por isso, a narrativa leve conduz o leitor com graciosidade ao entrar em contato com as últimas horas de "vida" e "morte" de Joaquim (Quincas) acompanhando de seus verdadeiros amigos pelas ladeiras de Salvador. Jorge Amado é um dos autores mais injustiçados pela crítica literária nacional, que não consegue enxergar em muitas obras do autor, momentos de lirismo e forte expressão literária. Geralmente toda expressão artística que cai no gosto popular é visto de uma forma negativa e estereótipada. A morte de Quincas e suas últimas aventuras antes do seu definitivo desaparecimento revela a existência de um Brasil rico e melancólic

O Caso do Vestido

Nossa mãe, o que é aquele vestido, naquele prego? Minhas filhas, é o vestido de uma dona que passou. Passou quando, nossa mãe?Era nossa conhecida? Minhas filhas, boca presa.Vosso pai evém chegando. Nossa mãe, dizei depressa que vestido é esse vestido. Minhas filhas, mas o corpo ficou frio e não o veste. O vestido, nesse prego,está morto, sossegado. Nossa mãe, esse vestido tanta renda, esse segredo! Carlos Drummond de Andrade é sensacional. Simplicidade e sofisticação na medida certa. O maior nome da poesia brasileira apresenta em seu poema "O caso do vestido" uma belíssima narrativa de amor. Amor, renuncia, dedicação, compreensão. Uma das minhas felicidades foi que ao assistir o filme que Paulo Thiago realizou inspirado na poesia de Drummond temos a sensação de que a homenagem foi justa e sincera por parte do diretor. Ótimo filme para o final de semana. Sai pensando na morte,mas a morte não chegava. Andei pelas cinco ruas, passei ponte, passei rio, visitei vossos parentes, n

InFância Roubada

Telma Guimarães aborda com sensibilidade o tema do trabalho infantil nessa obra destinada ao público juvenil. Traçando um perfil realista acompanhando o cotidiano de quatro crianças que tem seus sonhos impedidos e destruídos pela necessidade de ajudar a família. A denúncia da exploração do trabalho infantil proporciona momentos de emoção e sensibilidade. É uma oportunidade que temos de abordar em sala de aula de forma lírica e social um tema que infelizmente permeia a sociedade brasileira e em outras partes do mundo. As ilustrações de Júlio Braz ampliam os discursos narrativos da obra realizando uma nova abordagem através das imagens.

Roteiro de Leitura

Nesse mês entra na minha lista de leitura obras indicadas para o vestibular e textos que há muito tempo estão na minha fila de espera. Em breve, realizo minhas impressões sobre essas obras. 1- Primeiras Estórias de Guimarães Rosa 2- Mãos de Cavalo de Gabriel Galera 3- O Monstro de Sérgio Santana 4- 1808 de Laurentino Gomes 5- Vinte mil léguas submarinas de Júlio Verne 6- O Rei da Vela de Oswald de Andrade

Chico Xavier

Gostei muito do filme de Daniel Filho. O roteiro não apresenta nenhuma novidade (essa história de começar o filme a partir de uma entrevista do personagem já é velha), mas mesmo assim é um prazer assistir a um filme brasileiro que resgata a trajetória de um grande nome, não apenas de uma religião, mas a "saga" de um homem que durante toda a sua vida sempre procurou fazer o bem para aqueles que estavam ao seu lado. As críticas negativas sobre a ausência do lado negativo ou vaidoso de Chico Xavier deixo para os críticos de cinema e para aqueles que não admiram a figura do médium. Emoção e poesia na dose certa. ****

O Sorriso Maravilhoso de Gal Costa

Gravado em 1993 pela BMG considero este disco o melhor trabalho de Gal Costa. No início da decada de 90, a cantora surpreende a crítica e o público, abandonando os esquemas mercadológicos dos anos 80 e se impõem com todo merecimento como a melhor cantora do Brasil. Sorriso do Gato de Alice é herdeiro direto da reviravolta artística proposto por Gal ao gravar em 1990 o LP Plural . Essencialmente acústico e com violões em primeiro plano, Gal apresenta um repertório de inéditas de quatro medalhões da MPB (Caetano, Gil, Benjor e Djavan). A safra musical é primorosa e a cantora realiza uma entrega musical maravilhosa. Hoje de manhã, resolvi novamente ouvir esse Sorriso e entrar na viagem proposta por Gal no universo da música. Como toda obra prima, o disco não chegou a ser um sucesso mercadológico, com canções exaustivamente ouvidas nas rádios do país (mesmo porque o rádio no Brasil opta pelo lixo), mas sua recepção foi mais percebida quanto a cantora realiza o show do disco que tem a dir

Manoel de Barros

A Namorada > Havia um muro alto entre nossas casas. Difícil de mandar recado para ela. Não havia e-mail. O pai era uma onça. A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por um cordão E pinchava a pedra no quintal da casa dela. Se a namorada respondesse pela mesma pedra Era uma glória! Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira E então era agonia. No tempo do onça era assim.

Retrato de uma Época

A obra de Ivan Ângelo publicada em 1976 é um dos melhores momentos da literatura brasileira produzida nos anos de regime militar no Brasil. O texto apresenta um mosaico de narrativas que são apresentadas de maneira independente abordando assuntos díspares e de repente, em um lance de mestre, todos esses mosaicos se juntam e formam uma unidade coesa e intensa. Na primeira narrativa encontramos uma colagem de diversos textos (sociologicos, históricos, literários, cordel)que falam sobre desigualdade social. A fragmentação é realizada de propósito para que o leitor possa construir a imagem da história e acompanhar um pouco o perfil de seu personagem principal, o ex retirante que depois de algumas informações no DOPS, vira ex subversivo Marcíonilio de Matos. Depois da festa o leitor é convidado a participar do debate que o autor faz sobre o processo de produção do livro. Bom demais. Uma aula de violência e cidadania brasileira. Excelente. *****

O Poeta do Brasil

Noel Rosa é um dos compositores brasileiros mais homenageados nos últimos anos. Importantes cantores e interpretes já se dedicaram a cantar a obra do artista. Por isso, achei arriscado mais uma homenagem. Ainda bem que me enganei. Não era preciso muito. Em se tratando de Martinho da Vila o resultado só poderia ser o melhor. Noel é um grande cronista de sua cidade. O cotidiano, o mundo da malandragem, a dor de cotovelo,são temas que permeiam o universo do artista e assim como Martinho, compartilham das mesmas características. Primeiro, o trabalho gráfico de Elifas Andreato é um luxo só. Revivendo as grandes capas de Martinho no final dos anos 70 e inicio dos 80. O roteiro é dividido com várias convidadas que marcam com maestria o contraste de suas vozes suaves com a lenta dicção saborosa de Martinho. No roteiro a clássica Filosofia parece um discurso na voz do cantor. Sua filha Martinália brinca com Minha viola (desaparecida nos últimos discos em sua homenagem) e Aline Calixto se deli

Poucas Marés

Com expectativa ouço o novo disco de Edu Lobo. Como resultado final o disco fica devendo e muito. Principalmente na pouca expressão e beleza das letras e na inspiração morna das melodias. Das inéditas de Edu Lobo, apenas Perambulando se destaca como uma das coisas mais bonitas realizadas nos últimos tempos na música popular brasileira. Suave, a vontade é de escutá-la a tarde inteira acompanhado de tudo aquilo que nos proporciona felicidade e tranquilidade. É pouco para um artista tão talentoso como Edu Lobo. **

A Ciência de Tom Zé

Toda a irreverência e inteligência de Tom Zé está presente em seu novo cd e dvd que comemora os 40 anos de carreira. Contador de histórias e provocador, no palco tem-se a impressão de que o cantor está na sala da sua casa, conversando, brincando, filosofando e emocionando os ouvintes com sua verbe impressionista. O show realiza uma retrospectiva dos principais momentos do artista e intercala com depoimentos diversos sobre várias etapas da vida do cantor. Um resgate e uma força musical que é irresistível. Gosto muito do momento em que Tom Zé homenageia a bossa nova e canta algumas canções de seu último disco Estudando a Bossa (que é sensacional e a mais original homenagem feita para comemorar os 50 anos da bossa nova) A arte de Tom Zé revela a existência de um país divertido, contraditório repleto de fantasia e saudade. Muito bom. ******

Memórias de Capitu

Proença Filho realiza um primoroso trabalho nessa obra que resolve responder as principais idéias e situações narrativas apresentadas por Bento Santiago em seu relato confuso. Eu, admirador de Capitu e com forte aversão a personalidade do filho de Dona Glória recomendo a leitura dessa obra que permite um olhar mais aberto, objetivo do relacionamento entre Capitu e seu doente marido. Imperdível. ****** "Capitu: Memórias Póstumas corrige, aos olhos de Domício, uma grande injustiça: a impossibilidade de defesa. O livro dá voz plena àquela mulher, brasileira do século XIX, que, apesar de toda a malícia e artimanha do desditado companheiro, se converte numa das mais fascinantes criaturas de Machado de Assis. A Capitu de Domício, no entanto, preenche com seu discurso espaço que ele deixou vazios " (submarino)