
O trabalho de Benjamim Moser sobre a vida e obra de Clarice Lispector é um daqueles trabalhos antológicos e entra sem dúvida nenhuma na lista das obras primas. Tem uns 2 dias que não consigo parar de ler a extensa obra (561 páginas). O autor, através de depoimentos de amigos e da análise particularizada de cada obra da autora, reconstrói o perfil de uma mulher enigmática, a frente do seu tempo, para quem a experiência de viver, era inadmissível e incompreensivo. Sua literatura é uma extensão de sua necessidade de enfrentar todos os problemas físicos, emocionais ou financeiros, cujo resultado final lhe traria momentos raros de descanso. A seguir o comentário de alguns capítulos:
O último capítulo da biografia (Nossa senhora da boa morte) mostra os últimos meses da vida de Clarice e a influência que estes tiveram na elaboração de seu último livro "A Hora da Estrela" (meu eterno livro de cabeceira). Clarice e Macabéa são as mesmas pessoas. A incapacidade de ser alguém e de interpretar a realidade que está em sua volta aproxima a nordestina de Clarice (Rodrigo S.) e ambas tem no final trágico o reconhecimento de sua grandiosidade e aplauso.
"Falando a partir do túmulo" apresenta os bastidores da última entrevista de Clarice Lispector para a TV Cultura quatro meses antes de sua morte. É revelador as informações que Moser apresenta, além das citações dos momentos marcantes da entrevista. A entrevista pode ser vista pelo Youtube e é desconcertante. A figura de Clarice imponente, sem qualquer tipo de simpatia e mostrando sua ansiedade fumando um cigarro atrás do outro e seu olhar desafiador. A impressão que temos é a de que Clarice sabia que esse seria seu último momento na TV. Doloroso demais se despedir da vida.
"Terror cultural" insere Clarice nos meios dos acontecimentos de 1968, mostrando de que maneira enfrentou o Ato Institucional N.5 e as implicações par a cultura nacional. O capítulo é interessante pois realiza uma abepercuordagem geral sobre as consequências do ato para o campo artístico brasileiro.
"A barata" apresenta a repercussão literária de "A paixão segundo GH". O interessante é como que Clarice consegue definir sua obra indicando a certeza de que jamais daria conta de alcançar a concisão e a mensagem que conseguiu encontrar nessa obra. O livro é sensacional e indica em sua narrativa estranha e "suja" os caminhos mais desconhecidos que temos que percorrer para compreender a nossa existência. Isso é para quem tem essa preocupação.
Vou continuar lendo a biografia. Meu domingo (de copa do mundo), mais uma vez está salvo. ******
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