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O Incêndio e suas várias versões


Ponto final na leitura reportagem de Mauro Ventura sobre a tragédia do incêndio do gran circo norte americano ocorrido na cidade de Niterói no final de 1961. Ventura recupera com trabalho de carpintaria os dias que antecederam a tragédia:  a movimentação e expectativa na cidade da chegada do maior circo que se tinha noticia, seus espetáculos e principais atrações e finalmente todos os momentos da tragédia que ocasionou a morte de mais de 500 pessoas.
O livro apresenta dois momentos. O primeiro é recolhido dos depoimentos dos sobreviventes e a exposição da noticias da época e o segundo, o relato envolvente e policial do  julgamento sobre os responsáveis por essa tragédia.

OUTRAS IMPRESSÕES:

•Unitevê: Como surgiu a ideia de fazer esse tema para o livro?
 •Mauro: Surgiu a partir de duas figuras muito importantes que foi o “Profeta Gentileza” e o cirurgião plático “Ivo Pitanguy”. O Profeta Gentileza, porque eu via as inscrições que ele fez nas pilastras do Caju, e ficava me perguntando quem era aquela figura. E achava que ele tinha perdido a família em um incêndio em Niterói. Depois descobri que era uma lenda, mas eu não tinha ideia. E o Pitanguy porque eu tinha lido que ele disse que essa tragédia gerou imensas vítimas. E que esse acontecimento tinha sido o mais marcante na vida dele. Aí, juntei essas coisas, e depois descobri que faz 3 anos que a tragédia ia completar 50 anos. Mas, ninguém havia escrito nada sobre o tema. Isso me inquietou, porque era uma coisa muito impactante para a época. Mas na verdade, não havia nada escrito sobre o tema. Eu também quis homenagem as vítimas. Quis mostrar o trabalho dos heróis anônimos, em uma onda de solidariedade que o país nunca havia visto. Também mostrar um pouco a tragédia para que não se repita mais. Mostrar o que aconteceu de errado para que não volte a acontecer.

Unitevê: Você comentou um pouco sobre a tragédia. O que mais te chocou nisso?
•Mauro: Muitas coisas. Uma delas foi o fato de ninguém ter sido indenizado. Outra coisa foi a tristeza do principal hospital da cidade estar fechado na hora em que a população mais precisava. Outra coisa foi o fato das condições do circo: Não tinha saída de emergência, não havia segurança, não tinha extintor de incêndio e a lona era altamente inflamável. Como é que se deixou um circo desses em funcionamento?. Mas nada é tão tristes como as próprias histórias das vítimas que perderam o que havia de mais precioso: a vida.

Unitevê: Como tem sido a repercussão do lançamento do livro?
 •Mauro: Olha, tem sido muito bem procurado, não só por pessoas que viveram a tragédia e que tem retornado dizendo que eu fui muito fiel ao que elas contaram. E se foi assim mesmo, parabenizaram-me por eu ter reconstituído essa estória. E também outras pessoas que não tiveram nada a ver com a estória, falando da importância de um país sem memória como o nosso, de minimamente contar que esse episódio não caiu no esquecimento.

 • Unitevê: E como jornalista, qual é a sua visão para o livro?
•Mauro: O livro tem um estilo chamado de jornalismo literário que é a mesma coisa de romance não-ficção. É você pegar um fato, uma estória real, e dá um tratamento de romance. Não que você vai inventar nada, não. Você está usando um recurso de romance que é quase você entrando na cabeça dos personagens. É até uma narrativa mais literária. O livro é muito isso, filia-se a esse jornalismo literário.
Unitevê: Teve algum momento que você como pessoa ou como jornalista viu que o tema seria ruim ou negativo para ser abordado?
•Mauro: Quando eu comecei a pesquisar, foi difícil conseguir personagens porque as pessoas resistiam muito. Perguntavam: Por que você vai falar de um tema assim? Por que você não fala que Niterói é quarta cidade em qualidade de vida do país, a “Cidade Sorriso”. Por que você vai falar da tragédia, lembrar a tragédia? E ao longo da pesquisa, eu ficava me perguntando: Será que isso vai interessar a alguém? É muito trágico?. Será que as pessoas vão falar?. Ou será melhor deixar como está?. Mas resolvi continuar. Felizmente, vi que era melhor abordar esse tema.

  •Unitevê: O livro possui um cunho jornalístico, literário que você já comentou. É também informativo?
 •Mauro: São três coisas que se misturam: Se é jornalístico tem que ser informativo, essas duas coisas são indiscutíveis. E tem esse tom literário sim. Mas não é uma descrição. Seria muito crua e sem adjetivo, não. Tem uma grande preocupação com o estilo, uma preocupação literária. A ação literária é muito grande. E os cuidados que tive, deu o tratamento literário.

. •Unitevê: E o que você espera do leitor, e o que eu o leitor pode esperar do livro?
•Mauro: É pretensioso querer esperar grande coisa, mas a minha ideia era essa: Que as pessoas conhecessem a estória. O que apresento é uma estória dramática e a maioria das pessoas não a conhece. Acima de tudo, gostaria que se emocionassem e pensem como é que pôde acontecer isso em Niterói, no Brasil. E como é que as pessoas passaram por isso. E sempre reverenciar esses heróis anônimos que foram solidários: Os escoteiros, os médicos de Niterói- uma turma maravilhosa que fez todo o trabalho de graça por mais de um ano e lutaram por mais de um ano pela causa das vítimas, ações das famílias, enfim. Não só que isso se passe, pois se passou um tempo imenso dessa estória, que é muito trágica. Mas que ao tempo, tem lances de heroísmo, de superação e de solidariedade. (www.culturaesaude)

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