Pular para o conteúdo principal

Doce Melancolia


O novo disco de Chico Buarque traz toda a assinatura do artista. Momentos de intensa beleza poética, ironia com o temáticas da qual não podemos fugir como a fugacidade do tempo são enredos de canções apresentadas em seu recente trabalho. Altamente recomendado para todos que adoram uma música popular com qualidade e riqueza poética. Não é qualquer um capaz de fazer uma letra como a que posto abaixo.


Se a dona se banhou Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça Nem enxergo bem

Para que me pôr no tronco
Para que me aleijar
Eu juro a vosmecê
Que nunca vi Sinhá
Por que me faz tão mal
Com olhos tão azuis
Me benzo com o sinal
Da santa cruz

Eu só cheguei no açude Atrás da sabiá
Olhava o arvoredo Eu não olhei Sinhá
Se a dona se despiu Eu já andava além
Estava na moenda Estava para Xerém

Por que talhar meu corpo
Eu não olhei Sinhá
Para que que vosmincê
Meus olhos vai furar
Eu choro em iorubá
Mas oro por Jesus
Para que que vassuncê
Me tira a luz

E assim vai se encerrar
O conto de um cantor
Com voz do pelourinho
E ares de senhor
Cantor atormentado
Herdeiro sarará
Do nome e do renome
De um feroz senhor de engenho
E das mandingas de um escravo
Que no engenho enfeitiçou Sinhá

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Emilio Santiago

É irresistivel o novo trabalho de Emilio Santiago. Nesse dvd extraído do show onde homenageia Ed Lincon, temos uma aula de simpatia e boa musica. Show temático dividido em dois blocos distintos nos leva a participar de um grande baile, no melhor estilo dos anos 60. Quem nunca participou de um baile assim, pode encontrar no balanço do cantor a oportunidade. Muito bom. As interpetações de "Misty", "Eu e a brisa" e "Ultima forma" já valem o preço do dvd. Excelente musica que limpa nossos ouvidos diante de tanta coisa esquisita que somos "obrigados" a ouvir. Cotação: ****

A Chuva de Fogo

Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.

Nara Leão canta Roberto e Erasmo

Meu domingo começa com Nara Leão cantando canções de Roberto e Erasmo Carlos. Gravado em 1978 pela Philips, o LP traz a marca autoral de Nara. Suave e econômico, a cantora apresenta outras nuances sobre as canções desses dois nomes importantes da música brasileira. Nara foi um dos nomes mais representativos da MPB nos anos 60, sendo figura chave em vários movimentos musicais. Uma espécie de camaleoa que mostrava a percepção de que vários estilos musicais deveriam ser sentidos e valorizados. Destaco como imperdíveis as gravações de "Quero que vá tudo pro inferno"; "As curvas da estrada de santos"; "Cavalgada" e "Proposta". Produção de Roberto Menescal. ****