Em vários momentos da leitura dos contos de Geovani Martins, trechos da canção "Caravanas" de Chico Buarque veio em minha mente. O que temos em mãos são narrativas que recolhem o que há de mais bárbaro e ao mesmo tempo o mais lírico da cidade do Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa é recortada e colocada em cheque em cada viela e becos das histórias narradas. A sensação de abandono e exclusão social nos leva uma reflexão que não é tão fácil assim de se fazer. Como aponta a canção "A culpa deve ser do sol que bate na moleira, o sol". Uma viagem nada sentimental sobre a sociedade brasileira.
Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.
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