Pular para o conteúdo principal

Amor, Festa, Decepção



A expectativa era grande por vários motivos. Primeiro, qualquer dvd de Maria Bethãnia é um grande acontecimento. Shows temáticos, roteiro preciso e forte marcação cênica. Geralmente os dvds da cantora conseguem captar pelo menos uma parte da magia e da sedução da cantora baiana. Mas seu novo dvd dirigido por André Horta (o mesmo diretor do dvd Maricotinha e Brasileirinho) decepciona e muito. A culpa não é da cantora. O show é muito bonito, mas a gravação deixou de lado aquilo que mais desperta atenção e beleza no canto dramático de Bethânia: sua interpretação e a teatralidade dos gestos apresentados. Tomadas amplas (as vezes nem vemos o rosto da cantora), cenas desencontradas (canta uma coisa aparece outra). Não valorizar a interpretação de canções como "Você Perdeu"; "Estrela"; "Balada de Gisberta" (alguns vídeos do youtube são melhores) através das imagens é um erro imperdoável da direção do dvd.
Apesar desses problemas, os extras explicam pelo viés musical o título do show, a partir de canções singulares: Amor (Eu velejava em você); Festa (Sete Trovas); Devoção (participação da cantora no dia de Nossa Senhora da Aparecida). São momentos em que temos a oportunidade de ver a cantora mais de perto, bem de perto.
De todos os dvds da cantora este Amor, Festa, Devoção é o menos inspirado da cantora. O Show é muito bom, mas o dvd (captação das imagens) deixa a desejar. **

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Chuva de Fogo

Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.

Martinho e a dificuldade da renovação

Martinho da Vila sempre está na minha cartola de canções essenciais e sempre aguardo com expectativa seus trabalhos. Entretanto nos últimos anos, Martinho vem se pautando por uma excessiva revisão em sua discografia. Seu último CD de inéditas é de 2007. De lá pra cá, regravações de sucessos e se prestarmos atenção, quase das mesmas canções. Falta de criatividade tenho certeza que não é. O compositor Martinho sabe extrair poesia das coisas mais simples e elevá-las a obras primas. Espero que em outra oportunidade, Martinho volta a ser aquele arrojado artista que surpreende seus ouvintes com narrativas sensacionais. Todo mundo sabe da importância das canções "Menina Moça"; "Casa de Bamba"; "O Pequeno Burguês", mas estas canções estão nos seus últimos três discos. Se pelo menos os arranjos apresentassem novidades, mas fica na releitura do sucesso. Não era necessário.Apesar disso, 4.5 é o cd do momento em minha trilha sonora, mas logo depois corro e coloco

Um passeio pelas ruas do Brasil

  A sensação é angustiante. A sensação que tive ao ler a nova obra de Chico Buarque foi de profunda desesperança e solidão. Por coincidência, estive em julho dez dias na cidade do Rio de Janeiro. Precisamente em Copacabana. Todos os contos do livro tem como cenário o cartão postal do país. Entretanto, esse cartão postal não é o oficial, o que revela toda a beleza do lugar. O que temos na obra é o lado B. As fissuras de um projeto de modernidade que não deu certo. Toda a desigualdade do nosso país, colocada sem adjetivos, sem possibilidade de mudança. Não precisava ser assim.