Pular para o conteúdo principal

O Poeta do Brasil



Noel Rosa é um dos compositores brasileiros mais homenageados nos últimos anos. Importantes cantores e interpretes já se dedicaram a cantar a obra do artista. Por isso, achei arriscado mais uma homenagem. Ainda bem que me enganei. Não era preciso muito. Em se tratando de Martinho da Vila o resultado só poderia ser o melhor.
Noel é um grande cronista de sua cidade. O cotidiano, o mundo da malandragem, a dor de cotovelo,são temas que permeiam o universo do artista e assim como Martinho, compartilham das mesmas características.
Primeiro, o trabalho gráfico de Elifas Andreato é um luxo só. Revivendo as grandes capas de Martinho no final dos anos 70 e inicio dos 80. O roteiro é dividido com várias convidadas que marcam com maestria o contraste de suas vozes suaves com a lenta dicção saborosa de Martinho.
No roteiro a clássica Filosofia parece um discurso na voz do cantor. Sua filha Martinália brinca com Minha viola (desaparecida nos últimos discos em sua homenagem) e Aline Calixto se delicia no X do problema (melhor faixa). Depois dessa bela homenagem que durante muito tempo fará parte do meu repertório musical, aguardo um trabalho de inéditas de Martinho. Uma produção Biscoito Fino.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Chuva de Fogo

Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.

Martinho e a dificuldade da renovação

Martinho da Vila sempre está na minha cartola de canções essenciais e sempre aguardo com expectativa seus trabalhos. Entretanto nos últimos anos, Martinho vem se pautando por uma excessiva revisão em sua discografia. Seu último CD de inéditas é de 2007. De lá pra cá, regravações de sucessos e se prestarmos atenção, quase das mesmas canções. Falta de criatividade tenho certeza que não é. O compositor Martinho sabe extrair poesia das coisas mais simples e elevá-las a obras primas. Espero que em outra oportunidade, Martinho volta a ser aquele arrojado artista que surpreende seus ouvintes com narrativas sensacionais. Todo mundo sabe da importância das canções "Menina Moça"; "Casa de Bamba"; "O Pequeno Burguês", mas estas canções estão nos seus últimos três discos. Se pelo menos os arranjos apresentassem novidades, mas fica na releitura do sucesso. Não era necessário.Apesar disso, 4.5 é o cd do momento em minha trilha sonora, mas logo depois corro e coloco

Clarice

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. Clarice Lispector