A obra de Ana Paula Maia revela um Brasil esquecido. Invisível aos olhos da maioria. A leitura revela uma angustia silenciosa. A violência social é tão avassaladora que chega em um momento que o silêncio que permeia os olhares e as ações dos personagens revela toda a angústia de se viver de forma tão miserável e sem nenhuma perspectiva de mudança. Os personagens da obra estão mais perto de nós do que possamos imaginar. É desolador.
Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.
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