Pular para o conteúdo principal

Muitos Perdidos nas noites do Brasil



Adaptar textos de Plínio Marcos é um desafio. Sua força, densidade, ambientes densos e uma violência exacerbada são características do teatro de Plínio e por isso, toda a polêmica envolvendo sua obra. Mesmo assim, José Jofilli realiza um bom filme que atualiza a narrativa de Plínio.
Um pouco diferente da peça de teatro, o conflito entre dois homens são substituídos por um casal. Muda o espaço (Rio de Janeiro para Nova York, denunciando a "ilusão" de que a vida nos EUA seria melhor), muda os comportamentos, mas a essência do texto, de certa maneira, persiste.
Trabalho eficiente de Roberto Bomtempo e Debora Falabella supera todas as expectativas. Vale a pena assistir. ***
Informações extras (site de literatura)

A peça é inspirada no conto O terror de Roma, do italiano Alberto Moravia. Paco e Tonho dividem um quarto em uma hospedaria barata e durante o dia trabalham no mercado, como carregadores. As personagens mantêm uma relação conflituosa, e sempre estão discutindo sobre suas vidas, trabalho e perspectivas. O tema da marginalidade permeia todo o texto, ficando muito próximo de outros trabalhos do autor, como Navalha na carne. Tonho se lamenta por não possuir um par de sapatos decente, fator que considera diretamente ligado a sua condição de pobreza. Ele inveja o seu companheiro de quarto, Paco, por possuir bom par de sapatos e este, vive a provocar Tonho chamando-o de homossexual, mesmo considerando-o parceiro. Paco, que no passado havia trabalhado como flautista, certa noite, teve sua flauta roubada num momento de embriaguez. Por fim, na tentativa de dar mais dignidade as suas vidas, ambos são compelidos à realização de um ato criminoso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um passeio pelas ruas do Brasil

  A sensação é angustiante. A sensação que tive ao ler a nova obra de Chico Buarque foi de profunda desesperança e solidão. Por coincidência, estive em julho dez dias na cidade do Rio de Janeiro. Precisamente em Copacabana. Todos os contos do livro tem como cenário o cartão postal do país. Entretanto, esse cartão postal não é o oficial, o que revela toda a beleza do lugar. O que temos na obra é o lado B. As fissuras de um projeto de modernidade que não deu certo. Toda a desigualdade do nosso país, colocada sem adjetivos, sem possibilidade de mudança. Não precisava ser assim. 

Homens de Cinza

Tive uma grata surpresa ao realizar a leitura desse livro de contos de Gabriel Chalita. As narrativas giram em torno de personagens masculinos e seus principais dilemas. Tudo apresentado de uma forma direta e objetiva. Em todos os contos, a temática da solidão e do medo de não alcançar nossos sonhos e desejos são perceptíveis na vida dos personagens. Isso faz com que o leitor se aproxime cada vez da história e torça pelo sucesso dos personagens (delicados, desiludidos). Para o autor, a cor cinza tem a capacidade de ser um elemento de ligação entre os mais diversos tipos de sentimento e por isso é utilizada de uma maneira tão assertiva. Por isso, a cinza é a metáfora do que se esconde em homens diferentes. Segundo Gabriel, o ser humano é genial pela complexidade de sua razão e pela fragilidade com que às vezes encara essa complexidade. As narrativas da obra proporcionam ao leitor a sensação de que não estamos sozinhos no mundo e que devemos, na medida do possível, lutar cada vez mais po...

Martinho e a dificuldade da renovação

Martinho da Vila sempre está na minha cartola de canções essenciais e sempre aguardo com expectativa seus trabalhos. Entretanto nos últimos anos, Martinho vem se pautando por uma excessiva revisão em sua discografia. Seu último CD de inéditas é de 2007. De lá pra cá, regravações de sucessos e se prestarmos atenção, quase das mesmas canções. Falta de criatividade tenho certeza que não é. O compositor Martinho sabe extrair poesia das coisas mais simples e elevá-las a obras primas. Espero que em outra oportunidade, Martinho volta a ser aquele arrojado artista que surpreende seus ouvintes com narrativas sensacionais. Todo mundo sabe da importância das canções "Menina Moça"; "Casa de Bamba"; "O Pequeno Burguês", mas estas canções estão nos seus últimos três discos. Se pelo menos os arranjos apresentassem novidades, mas fica na releitura do sucesso. Não era necessário.Apesar disso, 4.5 é o cd do momento em minha trilha sonora, mas logo depois corro e coloco...