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Mostrando postagens de março, 2010

Pietá

Acredito que este é um dos melhores discos da música popular brasileira dos últimos anos. Gravado em 2003 com produção luxuosa da gravadora WEA, Milton Nascimento realiza uma viagem musical que engloba desde suas raízes locais com as temáticas globais. Com a participação especial de Simone Guimarães, Maria Rita e Marina Machado nos vocais, o mineiro de três pontas surpreende pela criatividade e pela força das canções. O Milton melodista conduz a novidades como a belíssima "A voz feminina do cantor","Beleza e canção". O momento alto é a gravação da música folclórica do vale do Jequitinhonha "Beira mar novo", com o cantor acompanhado por um coral de crianças afinadíssimas. Excelente. *****

Lygia Fagundes Telles

Como boa indicação de leitura para o final de semana indico a coletânea de contos ao lado indicada de Lygia Fagundes Teles. O livro é sensível e proporciona ao leitor momentos de puro deleite nas situações dramáticas apresentadas. Lygia domina a técnica do conto moderno e junta com densidade imagens dispares que conduz o leitor por caminhos desconhecidos. O que não é provável acontece, o que é esperado é surpreendente e a fantasia vira a mais pura realidade. Muito bom. ****

Juca Pirama

Inicio essa semana a análise da obra Juca Pirama de Gonçalves Dias. Importante momento para a poesia nacional. O autor maranhense procura nesse poema épico revitalizar a figura do índio proporcionando a nação brasileira no século de sua independência política o orgulho de um passado histórico. A leitura deve ser feita de maneira atenta pois as construções das imagens de Dias são densas e plasticamente descritivas. A obra foi indicada para o vestibular da Universidade Federal de Goiás para 2011.

O Silêncio e o Som de João

Meu domingo começa com João Gilberto. E isso significa lidar com o silêncio e o som ao mesmo tempo. Pode paracer contraditório essa afirmação, mas o som do cantor baiano é de uma fineza e elegância tão grande que a riqueza da melodia e sua batida de violão só são perceptíveis acompanhados do silêncio. Como canta Caetano Veloso, "melhor do que o silêncio só mesmo João". Na década de 90 tive o privilégio de assistir ao seu show apresentado em Goiânia para um teatro Rio Vermelho lotado. O show começou com duas horas de atraso (como é de se esperar vindo de João). As 23:30 João entra no palco, pede desculpas pelo atraso e começa o show. A última canção foi apresentada quase as duas horas da manhã. Isso mesmo, duas horas e meia na companhia de um gênio. Arrebatador. *****

Quem é Capitu?

É visível em minhas aulas a simpatia que tenho por Capitu . E por isso, sempre que trabalho com a obra prima de Machado de Assis tenho que "policiar" minha leitura pois muitas vezes ela condiciona a leitura dos alunos para aquilo que eu acredito.Por isso, a leitura dessa coletânea de artigos sobre a personalidade de Capitu é uma forma de relativizar e problematizar a figura da "cigana dos olhos oblíquos". Intelectuais e artistas são convidados a traçar uma visão sobre Capitu ; entre eles, Roberto DaMatta , Otto Lara Resende, Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Carvalho e outros. Em breve realizarei meu comentário levando em consideração as indicações de alguns artigos. Desde já a leitura desperta curiosidade e faz com que você tenha que voltar a obra e identificar situações que não haviam sido observadas antes. Isso é estimulante. *****

Tarsila do Amaral

A peça de Maria Adelaide Amaral realiza um perfil interessante acerca não apenas da pintura de Tarsila do Amaral, mas dos principais momentos da experiência modernista no Brasil. Fruto de 10 meses de pesquisa e entrevista, Adelaide revela momentos marcantes do período e da vida da pintora modernista. Os bastidores da semana de 22 são questionados pelos seus participantes: Oswald de Andrade (sua personalidade intensa é revelada de forma contestadora, os momentos de raiva e humor se sobressai ), Mário de Andrade (sua timidez, seus conflitos e sua paixão pelo Brasil é notório) e Anita Malfatti (a grande precursora de tudo, sua insegurança diante de Tarsila marca a cena). Fica a impressão de que o tempo soube valorizar a importância desses artistas e sua contribuição para o que somos e fazemos hoje. Leitura agradável para o fim de semana. *****

Nelson Rodrigues

Tenho a felicidade de ter em casa o teatro completo de Nelson Rodrigues. O teatro nacional nunca foi o mesmo depois das grandes inovações apresentadas pelo autor. Sua forte crítica a sociedade nacional, sua hipocrisia, mazelas e falcatruas, tudo isso é matéria recorrente do seu repertório e da nossa existência. Por isso, suas peças foram constantemente perseguidas e mal compreendida por determinados setores da sociedade. Ainda bem que Nelson sempre manteve sua postura de tentar fazer com que suas peças pudessem ajudar a corrigir os defeitos de caráter que vigoram a cada dia no mundo em que vivemos. ******

Dom Casmurro

Dom Casmurro é um dos livros mais bem escritos da literatura brasileira. Nenhuma falha. A riqueza da narrativa, os detalhes das cenas, os comentários filosóficos. Tudo está ali. Trabalhando novamente com a obra de Machado de Assis encontro imagens que antes não havia visto (nas outras e tantas leituras que fiz), revejo amigos que há muito tempo não encontrava e sou convidado a compartilhar da companhia do narrador da história. Bento Santiago não é um homem de confiança. Por isso, meu encontro com ele é sempre negativo, desconfiado. Procuro sempre não condicionar a leitura dos meus alunos e proporcionar uma discussão isenta acerca das proposições apresentadas pelo narrador, mas muitas vezes isso não é possível, é flagrante as milhares de mentiras que apresenta e são facilmente percebidas em seu discurso. A reeleitura de um clássico nos ensina a todo instante a magia e a força de repensar sempre nossa existência, vida e postura diante da sociedade da qual fazemos parte. Dom Casmurro tem

A Festa de Maria Bethânia

Com pequenas alterações no roteiro original apresentado no ano passado, Maria Bethânia apresentou, no último final de semana na cidade maravilhosa, seu mais novo espetáculo de teatro: Amor, Festa, Devoção. A julgar pelas primeiras cenas do show aconteceram apresentações magistrais da interprete. Dividido em 2 atos, com marcação precisa da direção de Bia Lessa, Bethânia desfila o repertório dos últimos trabalhos. Destaque no repertório: Você perdeu (incrível!), Serenata do Adeus, Balada de Gisberta, Estrela e uma solitária Curare na homenagem apresentada a mãe. Agora é esperar para conferir o resultado do dvd gravado.

Bibi Ferreira e Miguel Proença

Cumplicidade. Como Pelé e Garrincha. Romário e Bebeto. Roberto e Erasmo. Assim vejo e ouço o disco de Tango de Bibi Ferreira e Miguel Proença. Nunca a simplicidade teve tão elegância, primor e sofisticação. Os solos do piano de Miguel conduz o ouvinte a narrativa instrumental que é "abalada" pela voz serena e forte de Bibi. Obrigatório.

Futebol e Literatura

Para quem gosta de futebol e quer ver por outro prisma as características desse esporte, as crônicas de Flávio Carneiro são primorosas. O autor recupera lembranças de sua infância e com humor e simplicidade apresenta sua visão sobre o esporte nacional. A grande sacada da obra é o momento em que Flávio compara o exercício da literatura com o do futebol. Os personagens, o espaço, a narrativa do espetáculo são usados como suporte no desenho que o autor apresenta dessa relação. Leitura agradável. A obra foi indicada para o vestibular 2011 da Universidade Estadual de Goiás.