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Mostrando postagens de julho, 2010

Regular

Fiquei decepcionado ao assistir o filme de Henrique Goldman. Acompanhamos os últimos meses de vida desse jovem brasileiro que acreditava que poderia ter uma vida melhor no exterior. A intenção é muito mais mostrar o cotidiano dos imigrantes brasileiros em Londres do que necessariamente realizar uma reflexão sobre o assunto. Como passatempo compensa, apenas isso. **

Shakespeare

Uma das melhores coisas que apareceu na televisão aberta nos últimos anos foi sem dúvida nenhuma a série Som e Fúria exibida pela TV Globo no ano passado. Lançado agora em DVD com 3 discos, acompanhamos a saga dessa trupe de atores , envolvido nas montagens de William Shakespeare . Humor inteligente, humor que nos leva a reflexão ou a simplesmente passar o tempo, humor que não ofende ninguém e nos leva a pensar sobre nossa condição humana. Afinal ninguém fica impune sem conhecer as peças de Shakespeare. Meu final de semana está garantido. *****

O FEITIÇO DE ELIZETH CARDOSO

Em homenagem a Elizeth Cardoso posto a letra de Feitio de Oração de Noel Rosa. Ouça a gravação presente no disco ao vivo com Jacob do Bandolim gravado em 1968. Sensacional. Quem acha vive se perdendo Por isso agora eu vou me defendendo Da dor tão cruel desta saudade Que, por infelicidade, Meu pobre peito invade Batuque é um privilégio Ninguém aprende samba no colégio Sambar é chorar de alegria É sorrir de nostalgia Dentro da melodia Por isso agora lá na Penha Vou mandar minha morena Pra cantar com satisfação E com harmonia Esta triste melodia Que é meu samba em feito de oração O samba na realidade não vem do morro Nem lá da cidade E quem suportar uma paixão Sentirá que o samba então Nasce do coração.

Todo o Sentimento

Termino a leitura da bonita biografia de Sérgio Cabral sobre a cantora Elizeth Cardoso. É uma pena saber que ao completar 20 anos de sua morte, a enluarada Elizeth não ganhou sequer alguma menção na grande mídia sobre sua vida e obra. A biografia de Cabral é sentimental. Amigo de Elizeth reproduz os momentos marcantes de sua carreira sem tocar o dedo na ferida. Mas isso não atrapalha a leitura da biografia. Estão lá as paixões, os netos, os bastidores dos shows, as viagens pelo exterior, a preocupação com a beleza, o medo da morte e a tentativa de superar sua doença (câncer no estômago) No decorrer da leitura, resolvi escutar alguns trabalhos de Elizeth. Maravilhosos. O trabalho com Rafael Rabello, Jacob do Bandolin, as Canções do amor demais. Fui surpreendido nessas audições com uma gravação belíssima de Feitio de Oração de Noel Rosa. Não sei se já postei, mas para mim, essa canção é a mais bonita da mpb e na gravação de Gal Costa achava que era insuperável. Ledo engano. Qualquer c

O Bem Amado

O filme de Guel Arraes faz uma justa homenagem a um dos personagens mais importantes da televisão brasileira. Inserido em outro contexto histórico, o filme promove uma aproximação entre realidade e ficção que há muito tempo não via no cinema nacional. Isso é positivo, pois o público consegue ao final do filme, tecer várias imagens acerca da ambientação histórica e política da trama de Dias Gomes. Adorei a trilha sonora que tem nomes como Zé Ramalho (gravação intensa e magistral de Cárcara); Zélia Duncam em um bolerão de tirar o chapéu de beleza e dramaticidade; Caetano Veloso e Jorge Mautner e os divertidos temas instrumentais do filme. A direção de Guel Arraes prioriza a linguagem televisiva como é perceptível na longa cena do encontro das irmãs Cajuazeiras com Odorico e a intenção de cada irmã de seduzi-lo e conseguir o sonhado casamento. A cena não é tão engraçada como pretendia, mas são pequenos defeitos que se perdem durante o filme. Impérdivel mesmo é a presença da atriz Maria F

Operação Teseu

O romance de Luís Fernando Veríssimo apresenta todas as marcas já conhecidas do autor. Leitura ágil e agradável, conduz o leitor a participar de um enigma literário. Surpresas, pistas importantes, humor requintado são os elementos usados pelo autor ao nós conduzir nessa grande aventura de "espionagem". "No novo livro, a assinatura de Verissimo está na narrativa em primeira pessoa, na caracterização do narrador (homem frustrado de meia idade que mantém alguma relação com a literatura), nas marcações de tempo ao longo da trama, na maneira de construção do humor irônico, na convergência de vozes, nas reflexões de metalinguagem sobre a própria história e na estrutura de paródia dos livros policiais. Assim como acontece nos outros romances, Os espiões envolve uma trama de mistério que vai sendo desenrolada em suposições de mesa de bar, descambando para teorias da conspiração e ações trapalhadas. Nesse caso, o mistério chega na forma de um envelope com o início de originais de

Joaquim Manuel de Macedo

Para compreender a produção literária de um escritor é válido indicar uma discussão acerca das influências da sua vida, sua posição social e de que maneira essa experiência foi apropriada em suas obras. Compreender a vida social do autor proporciona informações precisas para a sua trajetória literária, esclarecendo imagens e os discursos empreendidos ao longo de sua produção. Os condicionamentos sociais para a análise da produção artística do autor são importantes na compreensão de sua literatura. “Se não podemos pela origem social obter todos os dados para a compreensão completa do desenvolvimento mental de um indivíduo, podemos pelo menos levantar alguns fatores que nos esclareçam sobre sua predisposição particular para enfrentar e experimentar determinadas situações” (Machado, 2002: 55) Poucos biógrafos se debruçaram sobre a história de Joaquim Manuel de Macedo. Por isso, as informações sobre sua trajetória são diversas e muitas informações não puderam ser validadas, seja pela ausên

Guimarães

As narrativas de Guimarães Rosa são grandes inventários da alma humana. Por isso, tenho grande dificuldade e receio de realizar a leitura de suas narrativas. O confronto com um Brasil desconhecido e ao mesmo tempo tão próximo de nós, acabam deixando o leitor desnorteado com tudo aquilo que o escritor mineiro apresenta em seu universo literário. Adoro ler e aprender lendo Guimarães Rosa. Dedico o meu domingo de descanso a viajar pelo universo mítico e desconhecido da alma humana. Viver é perigoso, mas é o perigo que, às vezes, dá sentido a nossa vida.

As aventuras de Crasso

Uma forte dose de humor e erotismo está presente nesta obra de Hilda Hilst. O narrador em primeira pessoa tem 60 anos e resolve registrar suas memórias, relatando momentos diversos da sua vida. Crasso, nome do personagem é anárquico em seu relato. Esse é um dos méritos da obra. O leitor se sente traído pelas várias perspectivas de leitura que o texto apresenta. "As mais diferentes formas de prosa e mesmo da poesia intervêm no livro: correspondências, minicontos, glosas, apóstrofes ao leitor, críticas literárias, comentários eruditos". Assim, a narrativa de Crasso mobiliza a todo instante o leitor a seguir esse jogo anárquico que revela características marcantes da personalidade do personagem. Maravilhoso. *****

Nara Leão canta Roberto e Erasmo

Meu domingo começa com Nara Leão cantando canções de Roberto e Erasmo Carlos. Gravado em 1978 pela Philips, o LP traz a marca autoral de Nara. Suave e econômico, a cantora apresenta outras nuances sobre as canções desses dois nomes importantes da música brasileira. Nara foi um dos nomes mais representativos da MPB nos anos 60, sendo figura chave em vários movimentos musicais. Uma espécie de camaleoa que mostrava a percepção de que vários estilos musicais deveriam ser sentidos e valorizados. Destaco como imperdíveis as gravações de "Quero que vá tudo pro inferno"; "As curvas da estrada de santos"; "Cavalgada" e "Proposta". Produção de Roberto Menescal. ****

Beleza

Um dos momentos mais bonitos do último disco de Nana Caymmi é a gravação da canção de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro chamada "Violão". A canção fecha o disco sem poupar o coração de ninguém. Leia: Um dia eu vi numa estrada Um arvoredo caído Não era um tronco qualquer. Era madeira de pinho E um artesão esculpia O corpo de uma mulher Depois eu vi Pela noite O artesão nos caminhos Colhendo raios de lua Fazia cordas de prata Que, se esticadas, vibravam O corpo da mulher nua E o artesão, finalmente, Nesta mulher de madeira, Botou o seu coração E lhe apertou contra o peito E deu-lhe nome bonito E assim nasceu o violão.

Clarice

Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo. Clarice Lispector

Maravilhoso

O cinema de Almodóvar é sensacional. Volver é mais uma prova da versatilidade e inteligência do cineasta espanhol. Vida inteligente no cinema é outra coisa. Maravilhoso. *****

Salve Geral

O filme de Sérgio Rezende mescla ficção com realidade ao apresentar em seu novo filme os bastidores do ataque que o comando do PCC realizou na cidade de São Paulo em maio de 2006. Como entretenimento o filme é regular e leva o telespectador a acompanhar de perto a trajetória de uma professora de piano que tenta "salvar" a vida de seu filho que faz parte do comando. O final é clichê puro, mas o filme compensa. É o trabalho menos inspirado de Sérgio Rezende. **

Lori Lamby

SOBRE A OBSCENIDADE INOCENTE: O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY, DE HILDA HILST Luciana Borges1. OPSIS - Revista do NIESC, Vol. 6, 2006 O caderno rosa de Lori Lamby é parte da chamada Trilogia Obscena2 , iniciada por Hilda Hilst, no ano de 1990. Essa trilogia teve, na época de sua publicação, a finalidade específica de oferecer ao público textos supostamente mais deglutíveis e divertidos, que, aproveitando-se da temática erótica, fossem garantia de vendagem da obra desta escritora, que sempre lamentou não ser lida e nem compreendida pelo público. Não obstante, a publicação de O caderno rosa causou um mal-estar extremo ao misturar, em uma mesma obra, os componentes pornografia e infância. Acusada de incentivar a pedofilia com a criação de sua protagonista, a autora amargou a incompreensão tanto da crítica, quanto de seu restrito grupo de leitores fiéis, os quais reprovaram a incursão pela pornografia e qualificaram como lixo estético o texto do Caderno. Acreditamos que grande parte da inquie

Som Cristalino

Este é o meu disco preferido de Maria Bethânia. Gravado em 1992, em meio a comemoração dos seus 25 anos de carreira, o disco produzido por Jaime Alem já revela algumas tendências que a cantora seguiria em sua discografia, anunciando nas canções desse disco, as temáticas do Brasileirinho; Pirata: Encanteria. Parece aquele tipo de trabalho realizado no quintal de sua casa com bastante carinho e respeito. E isso é evidente ao longo do roteiro de canções. Compositores especiais oferecem obras primas para Bethânia: Roberto Mendes, Renato Teixeira, Dominguinhos, Moacyr Luz, Djavan. E duas presenças deixam o disco mais bonito ainda. A percussão de Carlinhos Browm e o violão inimitável de Rosinha de Valença. Este seria o último trabalho de Rosinha antes de seu derrame cerebral. Não cito nenhuma canção em especial, pois vejo o disco como um todo e que deve ser ouvido com atenção e carinho. "Dourar o vale a serra, pupila, íris, pálpebra, retina, se olho água filtrasse a retina do mundo e da

Memorial de Machado de Assis

Ficção e realidade se mesclam nessa primorosa obra de Haroldo Maranhão que recria os últimos dias de vida de Machado de Assis. O trabalho de Maranhão é maravilhoso, principalmente quando estabelece relações de intertextualidade com as principais obras do autor. Em um trabalho raro de pesquisa, somos convidados a acompanhar a agonia final de Machado, que recebe momentos antes de sua morte, a visita de seus principais personagens. A seguir, uma resenha que explica de maneira mais detalhada a obra: Os últimos dias do maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis, são a matéria-prima deste notável romance Memorial do fim: a morte de Machado de Assis, de Haroldo Maranhão, autor fundamental para a ficção contemporânea. O escritor ambicionou honrar a narrativa machadiana e tratou o tema de uma forma obsessiva, que acabou se refletindo ao longo do capítulo "A Morte de Machado de Assis". Na obra o tempo é sentido pelo moribundo como algo fatalista, conscientizando o p

BOM DEMAIS

A Grande Família é um dos poucos programas que assisto na televisão aberta. É sinal de vida inteligente dentro da televisão. Nesse box com 6 dvds, temos mais de 45 episódios da série que é uma das maiores audiências da TV Globo. Graça e harmonia permeiam a maior parte dos episódios. Destaque para os episódios: "Amigo é para essas coisas" (Lineu descobre que seu melhor amigo é homossexual"); "O filho da mãe" (A volta da mãe de Agostinho); "O sorriso do largato" (Agostinho canta a melhor amiga da esposa); "O velhinho pocotó" (Seu Floriano resolve cair na farra); "Elas estão descontroladas" (Lineu é assediado por uma amiga no trabalho); "Grande família justiça" (Agostinho pede pensão alimentícia para Isabel). Programa maravilhoso para as férias. ******

A Chuva de Fogo

Lembro-me de que era um belo dia de sol, cheio do burburinho popular, nas ruas atulhadas de veículos. Um dia bastante quente e de perfeita transparência. Do meu terraço via-se uma grande confusão de telhados, parques esparsos, um naco de baía juncado de mastros, a linha reta e cinzenta de uma avenida..... Por volta das onze horas caíram as primeiras fagulhas. Uma aqui, outra ali, partículas de cobre semelhantes às faíscas de um pavio; partículas de cobre incandescente que batiam no chão com um barulhinho de areia. O céu continuava límpido, o ruído urbano não diminuía. Só os pássaros da minha gaiola pararam de comer. (Leopoldo Lugones) A leitura desse texto de Lugones é sensacional. Impressiona pela beleza plástica e pela apoteose apresentada acerca do fim do mundo e a cena do fogo tomando conta, destruindo tudo em sua volta. Raridade. O texto está presente na coletânea dos "melhores contos bíblicos" da Ediouro.

FEITIÇO DE BELEZA

Meu domingo começa bem. Assisto ao último show da cantora Gal Costa inspirado em seu último cd de inéditas lançado em 2005. Para quem queria uma Gal antenada com o presente e buscando coisas novas, encontra nesse show sua resposta. Como uma diva, a cantora desfila um mosaico de canções inéditas intercalando com canções do lado "b" de sua vitoriosa carreira. Pena o show e disco não terem feito o sucesso e a repercussão que deveria ter. O que temos na mídia e em outros segmentos artísticos é lixo demais para a serenidade e a beleza do canto de Gal Costa. Imperdível a interpretação de Voyeur; Te adorar; Feitiço de oração e Antonico. Nota 100. *****

POESIA

Despe-te das palavras e te aquece. Toma nas mãos esses odres de terra E como quem passeia, leva-os ao mar. Se tudo te foi dado em abundância O sal e a água de uma maré cheia Eu te darei também a temperança. Deita-te depois e vibra tua garganta Como se fosse o início de um cantar. Não cantes todavia. Aqui, zona de tato e calor, margem do ser Larga periferia, olha teu corpo de carne Tua medida de amor, o que amaste em verdade. O que foi síncope. Todavia não cantes na perplexidade. HILDA HILST

O caderno de Lori

Inicio a leitura do romance de Hilda Hilst. Antes de entrar em contato com o texto, fiz uma ampla leitura das resenhas críticas acerca de tal obra e confesso que achei as resenhas moralistas demais para o meu gosto. Convencional e de fácil digestão, a literatura e a prosa de Hilda Hilst não é de fácil digestão. Ainda bem, pois de mediocridade já estamos fatos, mas em todo o caso, o livro deve ser lido com bastante atenção para não termos dele uma visão errônea sobre suas situações narrativas. Em breve faço um comentário mais detalhado sobre essa obra de Hilda Hilst. Mas de inicio, já deixo claro minha simpatia pela narrativa e pela maneira irônica que a personagem principal conta suas aventuras "infantis".
Clarice Lispector nunca foi tão acessível, direta e repleta de humor como nessa sua obra reveladora. A crítica ficou surpresa com o teor "pornográfico" ou "obsceno" dos contos, como se isso realmente fosse o principal teor das narrativas. Ridículo pensar que uma grande parte da crítica literária nacional olhe para esse livro com tal atitude. Adorei o livro de Clarice e principalmente a exacerbação de um humor que maior parte de seus romances, geralmente estão encobertos pela densidade dos personagens e das situações limites. leitura recomendada de alto nível. ****