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Mostrando postagens de abril, 2010

Silêncio

Silêncio. Silêncio e Silêncio. Não vou entrar nas discussões idiotas sem sentido sobre a estética da fome, o enquadramento da câmara, a escolha do preto e branco pois essa discussão é pequena demais diante do retrato que José Padilha apresenta da fome crônica ocorrida não apenas no nordeste brasileiro, mas em todo o país. O filme é denso demais e não há espectador que não saia envergonhado da situação apresentada por Padilha. Esse documentário teria sim, que ter mais de 6 milhões de espectadores tão comemorados e propagados pelo cinema brasileiro nos últimos anos. Mas não, fica restrito a um pequeno público que não pode fazer nada para modificar tal situação. Continuamos alimentando cada um de uma maneira, a ignorância e a ausência de sensibilidade em relação ao próximo. Devo demorar para me recuperar (infelizmente) da denúncia apresentada por Padilha em seu documentário. As cenas de fome, a falta de perspectiva, a vitória do fracasso, a persistência da miséria Para depois continuar vi

A Hora da Estrela

Este é o meu livro preferido. Inesquecível a primeira vez que entrei em contato com a narrativa de Clarice. Faíscas, pedras, fogo, sem medo de se perder no meio de suas imagens e fantasias. É meu livro de cabeceira e sempre que posso, folheio e leio passagens marcantes que proporciona momentos de lucidez e reflexão. A novidade é a postagem do show da cantora Maria Bethânia realizado em 1984 inspirado na obra de Clarice. Bethânia realiza uma leitura musical da trajetória de Macabéa e de uma grande parcela da população brasileira que não tem a menor chance de conseguir um dia ter sua "hora da estrela de cinema". O áudio é excelente e fica claro todo o desenvolvimento do roteiro do espetáculo. Textos são apresentados e intercalados com canções que ampliam o significado das situações dramáticas dos personagens. Destaque para a gravação de "Cajuína"; "Fogueira" e uma suave interpretação da difícil "Soneto" de Chico Buarque que fecha o show. Se quiser

Noite de Gala

A obra de Chico Buarque já foi revista por vários nomes da música popular brasileira: Ney Matogrosso (agressivo); Oswaldo Montenegro(teatro), Nara Leão (intimista); Gal Costa (elegante); Quarteto em Cy (memória). O disco de Mônica Salmaso registra as últimas apresentações do show que homenageou o compositor , que passou por 21 cidades do Brasil em mais de 80 apresentações. A versão de Salmaso e a do quinteto Pau Brasil revela novas nuances nas canções de Chico e indica o grane profissionlismo da artista. Bela gravação da canção "Olha Maria". ****

Era no tempo do rei

Para comemorar o feriado em pleno quarta feira, inicio a leitura da obra de Ruy Castro. Pelas primeiras páginas, percebi que é um livro para se ler de um fôlego só. Misturando ficção com momentos marcantes da história nacional, o autor recria de maneira especial, o cotidiano do Rio de Janeiro em plena monarquia, desvendando seus principais segredos e problemas. O descanso e a diversão estão garantidos com a divertida narrativa de Ruy Castro. *****

Casa da Mãe Joanna

Divertido demais. A impressão que tive ao terminar o filme de Hugo Carvana foi a de questionar se eu tenho orgulho ou não em ser brasileiro. Na verdade, o elemento crítico do filme não se resume ao perfil do brasileiro, mas de certa maneira ao perfil de todo indivíduo que vivendo em sociedade precisa a cada dia que passa, ao lutar pelo pão nosso de cada dia, encarar todas as situações que estão em sua volta com humor e esperteza. Os efeitos especiais e a trilha sonora proporciona leveza e velocidade. Uma narrativa cheia de peripécias que a cada momento que passa torna-se mais complicada e confusa. Um momento divertido do cinema nacional. ****

Pensador Social na Primeira República

Neste trabalho,a professora Maria Cristina Teixeira analisa a obra de Lima Barreto e sua relação com as mudanças históricas e sociais vividas pela cidade do Rio de Janeiro no inicio do século XX. Sua tese de doutorado trabalha na vertente de que a obra de Barreto proporciona ao leitor uma visão crítica desse período histórico, aproximando-o do olhar sociológico. Um trabalho de pesquisa e registro histórico marcante. No primeiro capítulo, Cristina apresenta um registro das várias representações teóricas da modernidade para depois inseri-las na experiência brasileira. O segundo capitulo intitulado "A sensibilidade sociológica no literato marginal" revela sua trajetória de vida a partir de sua tripla marginalidade (social, racial e literária) que conduziria o destino de sua obra. A obra de Cristina é um exemplo salutar de perspectiva envolvendo estudos de sociologia e literatura. Competência na leitura das obras e novidade nas proposições apresentadas. Leitura recomendada para q

Lágrima

Lágrima por Lágrima hei de te cobrar Todos os meus sonhos que tu carregaste Hás de me pagar A flor dos meus anos, meus olhos insanos de te esperar Os meus sacrifícios, meus medos, meus vícios Hei de te cobrar Cada ruga que eu tiver no rosto Cada verso triste que a dor me ensinar Cada vez que no meu coração morrer uma ilusão Hás de me pagar Toda festa que adiei Tesouros que entreguei à imensidão do mar As noites que encarei sem Deus Na cruz do teu adeus Hei de te cobrar Roque Ferreira É com essa canção que inicio meu domingo depois de uma semana de intenso trabalho. Com sensibilidade e delicadeza, Roque mostra a dor de um eu lírico que distante da pessoa amada, indica que a mesma ainda vai pagar por todo sofrimento que o proporcionou. A gravação original é de Maria Bethânia.

Vitoriosa

A vida de Elza Soares mostra a imensa capacidade criativa e força que cada brasileiro nascido na periferia das grandes metrópoles possui. Apesar do texto de José Loureiro ter algumas licenças poéticas que não me agradam, a biografia de Elza traça o perfil de uma mulher obstinada que lutou durante toda a sua vida pela afirmação de sua carreira e principalmente pelo direito de ser respeitada em todos os seus direitos. Lição de vida. Ao terminar a leitura da obra, coloco um cd de Elza e celebro da minha maneira a trajetória de uma grande artista.

Estômago

Fiquei surpreso ao assistir o filme de Marcos Jorge. Tudo perfeitamente bem feito. Trilha sonora delicada e forte nas horas indicadas. Roteiro inteligente. Atuação marcante dos atores. Durante o filme fui convidado a participar e a torcer pela trajetória do personagem principal. A grande novidade no filme é a junção de dois tempos: a chegada de Raimundo Nonato em São Paulo e sua dificuldade em arranjar emprego até ser convidado a trabalhar na cozinha de um restaurante. Neste, Raimundo aprende tudo e se torna um grande cozinheiro. No outro tempo, temos a chegada de Nonato em uma penitenciária e suas primeiras ações nesse espaço de conflito. A novidade é que somos convidados a traçar toda a trajetória de Nonato que permitiu ao mesmo sua condenação por um crime bárbaro. As situações dramáticas apresentadas são acompanhadas com atenção e permitem momentos divertidos e reflexivos. " O filme trata de dois temas universais: comida e poder. Mais especificamente, a comida como meio de ad

O Leopardo de Marina Colasanti não é delicado

Marina Colasanti é herdeira direta da prosa de Clarice Lispector. Essa inspiração é perceptível nesta obra de contos que seguem uma perspectiva feminista ao olhar determinadas imagens da sociedade brasileira. A discussão em torno das relações de gênero são marcadas por uma posição de antagonismos entre os discursos dos diversos personagens. Uma marca constante na obra é a apresentação de situações limites entre os personagens que tem como principal problema a solidão e a incapacidade de confiar nos outros. Os finais abertos garante ao leitor uma possibilidade riquíssima de se colocar no lugar dos personagens e através dessa abertura provocar sensações que nos colocam próximos nesse universo denso que é a nossa realidade. Muito bom. *****